quarta-feira, 12 de novembro de 2008
Mundo Deserto
esse é um relato pessoal, sobre uma experiência que jamais desejo a qualquer pessoa, mas que infelizmente muitos ainda vão viver.
sexta-feira, 8 de novembro de 2008.
Não desejava sair pra "night", além de pouca grana estava visando ir cedo no sábado à feira de antiguidades da Praça XV onde pretendo fazer uma pesquisa para o trabalho final de antropologia.
Meu desejo era somente ir à sessão de 21:30, do curtacinema que frequentei a semana inteira e a anterior. Sessão "OLHOS LIVRES", curtas escolhidos pelo Carlos Reinchbach. Ia somente ao cinema e voltaria para casa.
(sessão olhos livres...vejam só.)
O Carlos, que estuda comigo na uff e mora na rua paralela à minha também estava indo, mas quis sair mais cedo, então acabamos não indo juntos. Terá sido esse o erro ?
Então, precisamente às 20:40 saí de casa, pensando em quem poderia encontrar por lá. Será q ligo pra Ananda pra ela ir ? Será que ligo pra Lucía pra saber se ela vai sair ? Será q ligo pro Carlos pra ele pegar ingresso pra mim ?
Adentrei a Pinto Guedes e enquanto esperava para atravessar a rua; os pensamentos mudaram para: será que pego a Radmaker ? será q pego a Octavio Kelly ? ou desço até a Rua Uriguai e depois sigo para a Conde de Bonfim ? Olho para a Radmaker, a rua em frente de onde eu parada, esperava atravessar; vejo pessoas indo e vindo, poucas mas indo e vindo. Penso, pegarei a Radmaker, é cedo ainda, é sexta ainda. Todas as ruas parecem perihosas à noite, hoje em dia. Você não vê transeuntes, não tem comércio aberto na rua...não pegue.
Ando rápido, ando como sempre ando todos os dias, é rápido. Eu não passeio.
Quando chega o cruzamento da Rua Radmaker com Avenida Maracanã, estou atravessando, é aquele momento q vc se desliga, pq está chegando ao seu destino. Vc não pode se "desligar" nunca. Andar nas ruas exige sua total concentração.
Só vejo um farol se aproximando, porque olho para o chão à frente, penseo ser um carro virando, fazendo um retorno.
Então sinto aquela mão agressiva, vinda de não sei onde, de não sei quem, que puxou na maior gana minha bolsa. Foi tudo TÃO rápido, pe sempre tudo TÃO rápido. No meu instinto eu seguro a bolsa e a puxo pra mim novamente.
Então, ele ainda com a mão nela, a puxa de volta, com mais força e mais vontade, com pressa, com agressividade, ele vai ter aquilo de qualquer jeito.
perdeu perdeu !!!
Com a mão ainda segirando a alça dela, eu caio no chão...Quase de cara no asfalto.
Eles arrancam e vão embora. Rapidamente me levanto, sem pensar em nada só vejo eles parados ao fim da rua, esperando uma brecha no trâmsito para virar pra conde de bonfim. Ainda atordoada, eu girto: Minha bolsa ! Meus documentoooos !
A minha ridícula esperança de que um cara desse pode ter o mpinimo de consciência "gentilmente" me levar só o q tenho q de valor.
Não acreditando no que acbara de acontecre, assustada, atordoada, totalmente adrenalinada, eu corro, corro com muita vontade, com medo, com pressa.
Preciso encontrar uma viatura, preciso chegar logo na delegacia.
Correndo é que sinto o úmido do joelho, sinnto uma quentura nele. É o sangue que corria.
As pessoas com quem cruzo no pequeno trajeto do local do assalto até a delegacia(q é no mesmo quarteirão, bem próxima), me olham assutadas, me perguntam porque corro, se fui assaltada.
Ofegante chego a delegacia, abro a porta e me deparo com mais 3 vítimas de assalto, ocrridos naquela mesma noite, num par de horas, nessa mesma região.
Me deparao com o ambiente frio, que gela minha cabeça quente. Me deparo com o pior...A sonolência, alienação de funcionários, a indiferença deles.
Mais uma, devem ter pensado.
E eu era. Era apenas mais uma.
Mais uma vítima.
Vítima que palavra hedionda. Que palavra escrota.
Morre ali, em 2 minutos na delegacia, qualquer esperança ridícula que ainda insistia em me rondar, de que talvez pegassem os caras, "se chegasse uma patrulha, se eles passasem um rádio"; e eu podeeria reaver o que de valor afetivo tinha ali.
Era SÓ o que eu queria.
Mas era muito. Era esperar demais. Querer demais. Sonhar até.
Sentei inquieta para esperar ser "atendida".
Atendida não ia ser, porque a polícia não é capaz de te atender.
Vou ao bar na esquina da minha rua; peço um cigarro de graça. PRECISO FUMAR.
PRECISO MUITO FUMAR. E beber uma água. Minha garganta parece um deserto.
Penso que não quero ficar ali na delegacia, que não quero estar sozinha. Ligo ou não ligo para minha mãe.
Não.
Ela vai ficar super nervosa, deseperada. ^n adianta, vou resolver isso e esperar ela em casa.
Porra. Ñ tenho mais a chave de casa.
Quero sair daqui.
Qual o número do Daniel ? Será q ele tá em casa, ele passa várias sextas em casa trabalhando.
Vou ligar pra ele. Qual é mesmo número ? Droga, não sei nenhum número de cor !!!
Acho q sei o da casa dele. Ninguém atende.
Merda, vou passar lá, vai q ele tá em casa.
...
Ai que merda, Daniel podia tá em casa.
Volto a delegacia, pergunto se demoara muito ainda.
Sim demora. Demora muito.
Vou pra casa, e do pequeno apartamento do porteiro, ligo enfim pra minha mãe, já se passou 1h e meia do assalto.
- Mãe...Fica calma. Fui assaltada.
Mas tá tudo bem.
-
- To ligando da casa do Cláudio pra avisar q vou pra 19ª fazer BO.
- Tá, tá bom, te espero aqui.
...
Depois de uma esporro lacrimoso, nem um conforto. Porra tudo bem ela ficar nervosa, mas caralho fala depois.
To com o joelho estourado, acabei de ser assaltada eu NÃO PRECISO OUVIR isso.
Saiu tarde ! Eram 20:40.
Fica saindo sempre ! Era sexta-feira.
Andando por aí de noite ! Era pertíssimo de casa...era de noite, era sexta-feira à noite, oras.
Faço um curativo e voltamos pra 19ª DP.
Bem-vindos ao show de horrores dessa noite !
Policias bizarros.
A coroa indignada que estava ali para dar queixa do velho tarado.
O velho que se masturbava durante uma sessão do filme High School Musical, no cinema do Shopping, a algumas cadeiras de onde ela e a filha de 13 anos estavam.
Velho doente.
O casal cuja filha foi assaltada voltando da Barra.
A mulher que foi assaltada, que levaram sua pasta de trabalho com processos, informações de clientes, papéis importantes, carteira, pal top que ela nem começou a pagar novíssimo, etc etc etc.
Entra então, ofegante, um homem alto, jovem bem forte.
Um típico marombeiro.
Conta seu caso: bandidos fizeram a pé e decarro um pequeno arrastão em ruas do Grajaú. Armados de pistola, os caras abordaram suas vítimas levando dinheiro, relógios, celulares, enfim tudo de valor. Uma viatura passava e rolou perseguição. Eram 3, um foi baleado e os outros 2 presos. Estavam sendo encaminhados pra lá, pra 19ª. O rapaz fortão estava lá com alguns amigos q tb haviam sido roubados, para reaver seus pertences.
Esperto. Sabe q com a polícia não se pode dar mole.
Burro. Menciona ao policial que seu relógio valia mais de 3 mil pilas.
Agora porque um cara que mora no Grajaú vai etr um relógio de 3 mil e ainda sair com ele por aí...ñ sei mesmo.
...
Chega a blazer com os ladrões.
Peeeeena que não são os que me roubaram.
Os policias retiram eles do carro, da maneira de sempre.
À base de socos, pontapés e tapas...Tapa na cara. Tapa na orelha. Chute e empurrões.
Eles entram algemados e cabisbaixos na delegacia, com aparência de estaraem dopados.
Acho q era as porradas que levaram que os deixaram fora de órbita.
Em seu espetáculo de autoridade, a porradaria continua, a cada passo que eles dão.
O fortão resolve participar também, afinal o espetáculo era dele desde o início, e ele deixou claro pelo tom e volume de voz com que já chegou falando. Socos na cara de um dos bandidos, que caiu e ainda levou chutes.
Nesse show não teve palmas.
Decidi então voltar depois. De que adianta ficar aqui vendo isso...
Vou pra casa, cansada, machucada e ainda sim aliviada.
Porque eu pensei em dado momento que em vez de estar na delegacia, poderia estar a caminho de um hospital público, tendo sido baleada, esfaqueada sei lá mais o que, sem minha mãe saber sequer onde eu tava. Podia estar estirada até aquele momento no asfalto, no cruzamento onde aconteceu tudo.
Alívio porque estou inteira, estou indo pra casa.
Tudo que quero é desabar na minha cama, e em silêncio no escuro agradecer por estar viva.
(amanhã vai ser outro dia...)
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2 comentários:
perdoem os erros de digitação! preguição de fazer revisão do texto...
As histórias expontâneas têm sempre erros de dactilografia...
Há muito tempo que não via alguém descrever tão bem o estado de impotência e de incompreensão que é o de ser vítima...
Um abraço de consolo!
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