sábado, 15 de novembro de 2008

acerca da memória

"a memória é uma ilha de edição"
wally salomão


Qual a importância da memória na formação da identidade ou personalidade de um indivíduo?
Délia C. Goldfarb -
História, memória e identidade são conceitos diferentes, mas intimamente ligados entre si. Quando contamos nossa história, estamos falando de um "saber" sobre nós mesmos, estamos transmitindo aquilo que sabemos sobre os acontecimentos, afetos, sensações e sofrimentos que marcaram nossas vidas. Um saber que eu tenho sobre o que é meu 'Eu'.

Para que exista "minha história" devo me reconhecer nela como um indivíduo, como um protagonista permanente. Por isso dizemos que há coisas que não podem mudar e outras que devem mudar para construir uma identidade.

A história é um movimento de mudança permanente. Esse movimento faz com que eu me reconheça, me identifique com minha história, com a história de minha vida, quando a conto para alguém ou quando, simplesmente, penso nela. Se nada mudasse, eu não teria história para contar, pois tudo seria sempre igual. Se você aos 50 é a mesma que aos 15... Que história é essa? Em alguns pontos você é sempre a mesma, você será sempre fulana de tal, filha de outros fulanos. Mas hoje você trabalha nesta revista, aos 15 talvez fosse muito religiosa, e aos 40 talvez decida mudar de profissão e ser atriz, e mais tarde pode ser uma agnóstica. Isso irá criando subjetividades diferentes, diferentes modos de se colocar no mundo, diferentes formas de pensar e ver a vida, de se relacionar com seu próprio corpo, de se vincular com os outros. Mas em todo esse movimento, você vai conservar sua identidade, senão, você deixaria de ser você. Aí já entraríamos no campo das patologias.

Por que acontece o esquecimento?
Goldfarb -
Sobre todo esse processo tem muita influência o mecanismo da repressão, que faz com que alguns conteúdos não possam ser lembrados. É um mecanismo que manda esquecer aquilo que em determinado momento poderia ser perigoso para a consciência. A memória existe porque existe o esquecimento. Se não tivéssemos a capacidade de esquecer, ter memória não faria o menor sentido, não precisaríamos dela. E a repressão atua em vários níveis, dependendo do grau de periculosidade do reprimido, por isso, alguns conteúdos são facilmente resgatados do esquecimento enquanto outros, nem sabemos que alguma vez existiram (embora continuem produzindo efeitos desde o inconsciente).

Até onde o que lembramos é fruto da realidade dos fatos e o que é ficção ou percepção?
Goldfarb -
Tanto o conceito de história, quanto o de memória, pouco ou nada tem a ver
com o conceito de verdade. Estes conceitos questionam a verdade. Nesse sentido, diria-se que a lembrança é sempre, de certa forma, ficcional. E a história de cada um é uma espécie de narrativa que cada sujeito cria em relação a si mesmo e na qual acredita piamente.

fonte: http://www.comciencia.br/reportagens/memoria/creditos.shtml

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"Como serás tu que imagino mais do que recordo – a memória traz consigo também o esquecimento, continuando embora memória de gestos repetidos – com quem te encontras, como pensas, que brisas novas suavizarão teu sangue inquieto.Na distância imprecisa que o tempo traz recordo vagamente teu rosto rude e já marcado, a ternura inconsistente e macia da areia deslizando em nossas mãos."


"Encontro fugidio e breve foi o nosso. Belo também da beleza que permanece na memória para além dos dias. Algures tu és, aqui eu sou.Porque imprecisa, a distância se resolve na certeza vaga de existirmos num como e num onde. Tanto basta. [pergunta ou afirmação?] Não há passos que nos aproximem no impreciso e no vago. O nosso reencontro está só na certeza vaga de existirmos com outros, sob o mesmo sol. Melhor assim."


Ronald Barthes

Fragtmentos de um Duscurso Amororso





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