sexta-feira, 28 de novembro de 2008

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

due stranieri

foto: M.R.


P: E tu che ha fatto a ieri sera ?

V: Qui sapere perché se fatto tante domande ?

V: Io credo che non bisogno conoscere per potere scendano...

V: E poi a forse non bisogno a poter scendano.



L'Eclisse

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

A praia do futuro

O farol Velho e O Novo

Há alguns dias que tento formular algo para escrever sobre a apresentação do Peter Greenaway que vi. E quase não vi.

Sr.Greenaway começa a apresentação exlicando que o que ele vai mostrar, não pode ser realmente considerada como uma VJ_Performance. É mais que isso.
Brevemente ele discorre sobre sua afirmação categórica:
o cinema está morto.

O cinema como conhecemos hoje(Ou como ele diz, a "Sindrome de Casablanca".): sua forma, estrtura e a experiência cinematográfica está obsoleta. Isso de se sentar numa sala escura, durante 2 horas para ver uma história ser contada através de sons e imagens, não funciona mais. Não desperta mais interesse. Precisamos pensar em outra forma, precisamos aliar às novas tecnologias, fazer cinema pensando que estamos na era da imagem instantânea, da enxurrada de informação visual nos invadindo por todos os meios. Temo que pensar nas novas mídias, como temos que pensar também nas novas narrativas, ou nas não-narrativas.
Fazer do cinema uma experiência sensorial além olho-ouvidos. Fazer dele uma completa experiência corporal.
Ele explica então, que a morte desse cinema, aconteceu em 1983 quando surgiu o controle remoto, aparelhinho que operava tanto a TV quanto o vídeo, ao mesmo tempo. Foi então que feneceu o cinema-passividade.
Ele nos convida a entrar na sua idéia e executarmos que ele chama de "sweat dance", somos então livres para levantar e dançar ou interagir como bem entendermos, com sua aprovação e consentimento¹.

Começa a apresentação.



A Life in Suitcases
A History of Tulse Luper

São 5 telões dispostos uma ao lado do outro, formando um semi-círculo.
Uma grande parede de imagens, que se alternam nesses telões, em muitos momentos seguindo uma ordem de tempo, às vezes simultaneamente, estando as imagens passando ao mesmo tempo nos 5 telões.
É difícil descrever, nem acho que vale a pena. O que posso dizer é que de fato, é uma experiência sem iguais. As imagens causaram em mim muita inquietação. Eu tive vontade sim de levantar da cadeira, ñ para fazer qualquer tipo de dança, mas estar sentada ali somente assitindo à tudo quieta, não bastava. O som era muito bom, e me envolvia totalmente.
Foi cansativo aos meus olhos, ouvidos e mente, porque talvez eu tenha errado como expectadora. Tentei prestar atenção às imagens, ao som que se linkava à elas, às palavras escritas em muitas das imagens, à ordem de apresentação das 92 malas.

Mala 4: cartas de amor
Mala 7: pornografia do Vaticano
Mala 19: Passaportes
Mala 23: cerejas
Mala 24: Mel
Mala 28: cadeados e chaves
Mala 32: animais de zoológico
Mala 33: Idéias sobre a America
Mala 38: água
Mala 40: uma adormecida
Mala 42: 92 objetos
Mala 43: arco-íris
Mala 58: partes de corpo
Mala 63: penas e ovos


It's all about the symbols
the symbols
the symbols
It's all about the symbols
the symbols
It's all about the symbols

never heard of these happenning again
never heard of these happenning again
never heard of these happenning again
never heard of these happenning again
never heard of these happenning again
never heard of these happenning again

Once Upon a time, that was a beuatiful woman
who loved an older man unwisely...

My name is Tulse Luper, and I'm a prisioner of life !

My name is Tulse Luper, and I'm a prisioner of life !

My name is Tulse Luper, and I'm a prisioner of life !

Diversas camadas de sons, se sobrepondo em ritmo alucinado.
Imagens que se repetiam e imagens que só apareciam uma vez em um único telão.

É como se Peter Greenaway estivesse pintando um quadro ao vivo.
Sua postura era de um pinto em pleno âmbito de criação.
Mas na real ela tava era desconstruindo e construindo ao mesmo tempo um filme, que narra a trajetória de Tulse Luper(e do urânio)através de 92 malas que continham objetos ou outras coisas que diziam sua história. Todas as prisões por qual passou. As malas abertas, janelas para as idéias dele.

Ainda absorvo a experiência tentando sorver cada imagem que me vêm à cabeça.
O que pensei é que ele ñ está tentando dizer que esse será o cinema do futuro. Ele só está querendo mostrar que esse é um primeiro passo, um primeiro experimento/estudo sobre como pode vir a ser o cinema.
Livre da relação passiva que é estabelecida e consentida cada vez que sentamos no cinema com pipoca e coca-cola.
Um cinema talvez mais próximo de uma experiência sensorial completa, onde o espectador faça parte da criação.


(...continua)








¹ Nesse momento eu credulamente, achei que o público presente iria se empolgar e entrar na onda. Não que achei q fosse virar algum show de rock, mas q as pessoas iriam interagir minimamente. Pensamento vão. O espetáculo todo pareceu mesmo é hipnotiza os presentes e troná-los ainda mais passivos que antes. Deve ter sido uma decepção para o Sr.Greenaway. Algumas pessoas dromiam despreocupadas e outras deixaram o teatro antes do fim. É estranho ver como certas coisas são rapidamente assiiladas aqui no Brasil, e por outro lado certas coisas estão tão longe ainda de nossa possível aceitação ou compreensão. Mas pensando melhor, isso é um tanto óbvio, no país das novelas. Foi ingênuo de minha parte achar q a performance tão tecnológica e futurista do P.G. iria mesmo agradar nossas mentes tupiniquins-novelescas.

terça-feira, 18 de novembro de 2008

a civilização do espetáculo

Vargas Llosa ataca Woody Allen, Carla Bruni e John Galliano
Publicidade

da Efe, em Madri

O estilista John Galliano, o cineasta Woody Allen, a revista "Olá" e a cantora Carla Bruni foram classificados nesta segunda-feira pelo escritor peruano Mario Vargas Llosa como parceiros do que ele chama a "civilização do espetáculo".

Vargas Llosa foi o protagonista de uma conferência organizada pela Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP) por ocasião de sua 64ª assembléia.

Seu discurso foi apresentado pelo diretor do jornal espanhol "El País", Javier Moreno, para quem o jornalismo vive um momento difícil e de transição cujos perfis não estão ainda definidos.

Para o autor de "Pantaleão e as Visitadoras", como conseqüências da civilização do espetáculo, a literatura, as artes plásticas, a crítica, o cinema, a política, o sexo e o jornalismo desapareceram em sua essência mais pura.

Isso ocorre, disse, porque há um total desdém por tudo o que lembra que a vida não só é diversão, também drama, dor, mistério e frustração.

Segundo o escritor, no campo do jornalismo, a difusão da frivolidade se alimenta do escândalo.

"A revista 'Olá' e seus 'congêneres são os produtos mais genuínos da civilização do espetáculo porque dão respeitabilidade ao que antes era produto marginal e quase clandestino: escândalo, intriga e inclusive a calúnia", afirmou Llosa.

"A triste verdade é que nenhum meio pode manter um público fiel se ignora a moda imperante", disse o escritor, baseando sua conclusão de que o problema não está no jornalismo mas num estilo de vida que tem no entretenimento passageiro a maior aspiração humana.

"A obrigação de pôr a cultura ao alcance de todos teve em muitos casos o indesejável efeito do desaparecimento de a alta cultura, minoritária pela complexidade de seus códigos, em favor de um amálgama na qual tudo cabe", afirmou o peruano.

Llosa criticou as seções destinadas à cultura. Para ele, desapareceram os intelectuais e praticamente os críticos, mas a cozinha e a moda ocupam boa parte das seções dedicadas à cultura, em um mundo controlado pela publicidade que dá carta de "cidadão honorário a John Galliano e a seus espantalhos indumentários" --nas palavras do escritor.

"E já não produz criadores como Bergman, Visconti ou Buñuel. Coroado como ícone é Woody Allen, que está para um David Lynch ou um Orson Wells como Andy Warhol para Gauguin", afirmou Llosa.

Mas é a política, disse Vargas Llosa, que experimentou maior banalização, porque tiques nervosos da publicidade tomam o lugar das idéias. "Carla Bruni com seu fogo de artifício midiático, mostra como nem sequer a França pôde resistir à frivolidade

sábado, 15 de novembro de 2008





Debbie Harry playboy bunny


"That picture above is a young Debbie Harry as a Playboy Club Bunny. She's pretty hot, right? It looks like she's got some ample and squishy boobage under that satin. So can you believe that Hef and his minions said, "Sure, you're sexy enough to serve us a couple of brandy alexanders, but we surely wouldn't want to see her naked. How gross."

In an exclusive interview with Steppin Out's Chaunce Hayden, Debbie Harry revealed that although Playboy thought she was fit to be a bunny, she wasn't thick enough to be a Playmate.

Back in the day, having a beautiful body meant having a little cushion for the pushin'. By today's standards, the young Debbie could've absolutely been a Playmate. Clearly, father time has paid a visit to the rocker. So chances are that Playboy isn't going to come a knockin'. Debbie has only one thing to say to Playboy, "You missed the boat."


Pois então, a rejeitada Deb, que só servia pra ser coelhinha garçonete de bar na mansão do playboy Heffner; se cansou de tudo isso, e revolucionou-se. Platinou o cabelo e começou a frequentar mais e mais o CBGB Club, onde encontrou seus pares. Depois de uma banda de garotas mal sucedida, ela arranjou um gatinho guitarrista- Chris Stein -e formou o Blondie.
O resto é história.

acerca da memória

"a memória é uma ilha de edição"
wally salomão


Qual a importância da memória na formação da identidade ou personalidade de um indivíduo?
Délia C. Goldfarb -
História, memória e identidade são conceitos diferentes, mas intimamente ligados entre si. Quando contamos nossa história, estamos falando de um "saber" sobre nós mesmos, estamos transmitindo aquilo que sabemos sobre os acontecimentos, afetos, sensações e sofrimentos que marcaram nossas vidas. Um saber que eu tenho sobre o que é meu 'Eu'.

Para que exista "minha história" devo me reconhecer nela como um indivíduo, como um protagonista permanente. Por isso dizemos que há coisas que não podem mudar e outras que devem mudar para construir uma identidade.

A história é um movimento de mudança permanente. Esse movimento faz com que eu me reconheça, me identifique com minha história, com a história de minha vida, quando a conto para alguém ou quando, simplesmente, penso nela. Se nada mudasse, eu não teria história para contar, pois tudo seria sempre igual. Se você aos 50 é a mesma que aos 15... Que história é essa? Em alguns pontos você é sempre a mesma, você será sempre fulana de tal, filha de outros fulanos. Mas hoje você trabalha nesta revista, aos 15 talvez fosse muito religiosa, e aos 40 talvez decida mudar de profissão e ser atriz, e mais tarde pode ser uma agnóstica. Isso irá criando subjetividades diferentes, diferentes modos de se colocar no mundo, diferentes formas de pensar e ver a vida, de se relacionar com seu próprio corpo, de se vincular com os outros. Mas em todo esse movimento, você vai conservar sua identidade, senão, você deixaria de ser você. Aí já entraríamos no campo das patologias.

Por que acontece o esquecimento?
Goldfarb -
Sobre todo esse processo tem muita influência o mecanismo da repressão, que faz com que alguns conteúdos não possam ser lembrados. É um mecanismo que manda esquecer aquilo que em determinado momento poderia ser perigoso para a consciência. A memória existe porque existe o esquecimento. Se não tivéssemos a capacidade de esquecer, ter memória não faria o menor sentido, não precisaríamos dela. E a repressão atua em vários níveis, dependendo do grau de periculosidade do reprimido, por isso, alguns conteúdos são facilmente resgatados do esquecimento enquanto outros, nem sabemos que alguma vez existiram (embora continuem produzindo efeitos desde o inconsciente).

Até onde o que lembramos é fruto da realidade dos fatos e o que é ficção ou percepção?
Goldfarb -
Tanto o conceito de história, quanto o de memória, pouco ou nada tem a ver
com o conceito de verdade. Estes conceitos questionam a verdade. Nesse sentido, diria-se que a lembrança é sempre, de certa forma, ficcional. E a história de cada um é uma espécie de narrativa que cada sujeito cria em relação a si mesmo e na qual acredita piamente.

fonte: http://www.comciencia.br/reportagens/memoria/creditos.shtml

(__#__)


"Como serás tu que imagino mais do que recordo – a memória traz consigo também o esquecimento, continuando embora memória de gestos repetidos – com quem te encontras, como pensas, que brisas novas suavizarão teu sangue inquieto.Na distância imprecisa que o tempo traz recordo vagamente teu rosto rude e já marcado, a ternura inconsistente e macia da areia deslizando em nossas mãos."


"Encontro fugidio e breve foi o nosso. Belo também da beleza que permanece na memória para além dos dias. Algures tu és, aqui eu sou.Porque imprecisa, a distância se resolve na certeza vaga de existirmos num como e num onde. Tanto basta. [pergunta ou afirmação?] Não há passos que nos aproximem no impreciso e no vago. O nosso reencontro está só na certeza vaga de existirmos com outros, sob o mesmo sol. Melhor assim."


Ronald Barthes

Fragtmentos de um Duscurso Amororso





sexta-feira, 14 de novembro de 2008






pérolas do youtube apresenta:
A Loba
uma aula da mais pura metalinguagem.
mais pura que coca das florestas das Farc !

colaboração do Yan ;)

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

MUNDO DESERTO

Num mundo deserto de almas negras
Eu me visto de branco
Me curo da vida, sofrida, sentida
Que deram pra mim

Num mundo deserto de almas negras

Meu sorriso não nego
Mas vejo um sol cego
Querendo queimar o que resta de mim

Mas é que eu vivo !
(vivoooo)
Num mundo deserto de almas negras (4x)

Na bondade da verdade
Eu quero ficar
E não acredito no dito maldito
Que o amor já morreu
Tenho fé que o meu país
Ainda vai dar amor pro mundo

Um amor tão profundo, tão grande
Que vai reviver quem morreu

Mas é que eu vivo !
(vivoooo)
Num mundo deserto de almas negras (4x)

Erasmo Carlos

porque quem canta...seus males espanta !
espanto assim qualquer mal que queira se aproximar
cantando bem alto essa música do tremendão...
maravilhosa; maravilhoso.

Mundo Deserto





esse é um relato pessoal, sobre uma experiência que jamais desejo a qualquer pessoa, mas que infelizmente muitos ainda vão viver.

sexta-feira, 8 de novembro de 2008.
Não desejava sair pra "night", além de pouca grana estava visando ir cedo no sábado à feira de antiguidades da Praça XV onde pretendo fazer uma pesquisa para o trabalho final de antropologia.
Meu desejo era somente ir à sessão de 21:30, do curtacinema que frequentei a semana inteira e a anterior. Sessão "OLHOS LIVRES", curtas escolhidos pelo Carlos Reinchbach. Ia somente ao cinema e voltaria para casa.

(sessão olhos livres...vejam só.)

O Carlos, que estuda comigo na uff e mora na rua paralela à minha também estava indo, mas quis sair mais cedo, então acabamos não indo juntos. Terá sido esse o erro ?
Então, precisamente às 20:40 saí de casa, pensando em quem poderia encontrar por lá. Será q ligo pra Ananda pra ela ir ? Será que ligo pra Lucía pra saber se ela vai sair ? Será q ligo pro Carlos pra ele pegar ingresso pra mim ?
Adentrei a Pinto Guedes e enquanto esperava para atravessar a rua; os pensamentos mudaram para: será que pego a Radmaker ? será q pego a Octavio Kelly ? ou desço até a Rua Uriguai e depois sigo para a Conde de Bonfim ? Olho para a Radmaker, a rua em frente de onde eu parada, esperava atravessar; vejo pessoas indo e vindo, poucas mas indo e vindo. Penso, pegarei a Radmaker, é cedo ainda, é sexta ainda. Todas as ruas parecem perihosas à noite, hoje em dia. Você não vê transeuntes, não tem comércio aberto na rua...não pegue.

Ando rápido, ando como sempre ando todos os dias, é rápido. Eu não passeio.
Quando chega o cruzamento da Rua Radmaker com Avenida Maracanã, estou atravessando, é aquele momento q vc se desliga, pq está chegando ao seu destino. Vc não pode se "desligar" nunca. Andar nas ruas exige sua total concentração.
Só vejo um farol se aproximando, porque olho para o chão à frente, penseo ser um carro virando, fazendo um retorno.
Então sinto aquela mão agressiva, vinda de não sei onde, de não sei quem, que puxou na maior gana minha bolsa. Foi tudo TÃO rápido, pe sempre tudo TÃO rápido. No meu instinto eu seguro a bolsa e a puxo pra mim novamente.
Então, ele ainda com a mão nela, a puxa de volta, com mais força e mais vontade, com pressa, com agressividade, ele vai ter aquilo de qualquer jeito.
perdeu perdeu !!!
Com a mão ainda segirando a alça dela, eu caio no chão...Quase de cara no asfalto.
Eles arrancam e vão embora. Rapidamente me levanto, sem pensar em nada só vejo eles parados ao fim da rua, esperando uma brecha no trâmsito para virar pra conde de bonfim. Ainda atordoada, eu girto: Minha bolsa ! Meus documentoooos !
A minha ridícula esperança de que um cara desse pode ter o mpinimo de consciência "gentilmente" me levar só o q tenho q de valor.

Não acreditando no que acbara de acontecre, assustada, atordoada, totalmente adrenalinada, eu corro, corro com muita vontade, com medo, com pressa.
Preciso encontrar uma viatura, preciso chegar logo na delegacia.
Correndo é que sinto o úmido do joelho, sinnto uma quentura nele. É o sangue que corria.
As pessoas com quem cruzo no pequeno trajeto do local do assalto até a delegacia(q é no mesmo quarteirão, bem próxima), me olham assutadas, me perguntam porque corro, se fui assaltada.
Ofegante chego a delegacia, abro a porta e me deparo com mais 3 vítimas de assalto, ocrridos naquela mesma noite, num par de horas, nessa mesma região.
Me deparao com o ambiente frio, que gela minha cabeça quente. Me deparo com o pior...A sonolência, alienação de funcionários, a indiferença deles.
Mais uma, devem ter pensado.
E eu era. Era apenas mais uma.
Mais uma vítima.
Vítima que palavra hedionda. Que palavra escrota.

Morre ali, em 2 minutos na delegacia, qualquer esperança ridícula que ainda insistia em me rondar, de que talvez pegassem os caras, "se chegasse uma patrulha, se eles passasem um rádio"; e eu podeeria reaver o que de valor afetivo tinha ali.
Era SÓ o que eu queria.
Mas era muito. Era esperar demais. Querer demais. Sonhar até.

Sentei inquieta para esperar ser "atendida".
Atendida não ia ser, porque a polícia não é capaz de te atender.
Vou ao bar na esquina da minha rua; peço um cigarro de graça. PRECISO FUMAR.
PRECISO MUITO FUMAR. E beber uma água. Minha garganta parece um deserto.
Penso que não quero ficar ali na delegacia, que não quero estar sozinha. Ligo ou não ligo para minha mãe.
Não.
Ela vai ficar super nervosa, deseperada. ^n adianta, vou resolver isso e esperar ela em casa.
Porra. Ñ tenho mais a chave de casa.
Quero sair daqui.
Qual o número do Daniel ? Será q ele tá em casa, ele passa várias sextas em casa trabalhando.
Vou ligar pra ele. Qual é mesmo número ? Droga, não sei nenhum número de cor !!!
Acho q sei o da casa dele. Ninguém atende.
Merda, vou passar lá, vai q ele tá em casa.
...
Ai que merda, Daniel podia tá em casa.
Volto a delegacia, pergunto se demoara muito ainda.
Sim demora. Demora muito.
Vou pra casa, e do pequeno apartamento do porteiro, ligo enfim pra minha mãe, já se passou 1h e meia do assalto.

- Mãe...Fica calma. Fui assaltada.
Mas tá tudo bem.
-
- To ligando da casa do Cláudio pra avisar q vou pra 19ª fazer BO.
- Tá, tá bom, te espero aqui.
...

Depois de uma esporro lacrimoso, nem um conforto. Porra tudo bem ela ficar nervosa, mas caralho fala depois.
To com o joelho estourado, acabei de ser assaltada eu NÃO PRECISO OUVIR isso.
Saiu tarde ! Eram 20:40.
Fica saindo sempre ! Era sexta-feira.
Andando por aí de noite ! Era pertíssimo de casa...era de noite, era sexta-feira à noite, oras.
Faço um curativo e voltamos pra 19ª DP.

Bem-vindos ao show de horrores dessa noite !

Policias bizarros.
A coroa indignada que estava ali para dar queixa do velho tarado.
O velho que se masturbava durante uma sessão do filme High School Musical, no cinema do Shopping, a algumas cadeiras de onde ela e a filha de 13 anos estavam.
Velho doente.
O casal cuja filha foi assaltada voltando da Barra.
A mulher que foi assaltada, que levaram sua pasta de trabalho com processos, informações de clientes, papéis importantes, carteira, pal top que ela nem começou a pagar novíssimo, etc etc etc.

Entra então, ofegante, um homem alto, jovem bem forte.
Um típico marombeiro.
Conta seu caso: bandidos fizeram a pé e decarro um pequeno arrastão em ruas do Grajaú. Armados de pistola, os caras abordaram suas vítimas levando dinheiro, relógios, celulares, enfim tudo de valor. Uma viatura passava e rolou perseguição. Eram 3, um foi baleado e os outros 2 presos. Estavam sendo encaminhados pra lá, pra 19ª. O rapaz fortão estava lá com alguns amigos q tb haviam sido roubados, para reaver seus pertences.
Esperto. Sabe q com a polícia não se pode dar mole.
Burro. Menciona ao policial que seu relógio valia mais de 3 mil pilas.
Agora porque um cara que mora no Grajaú vai etr um relógio de 3 mil e ainda sair com ele por aí...ñ sei mesmo.
...
Chega a blazer com os ladrões.
Peeeeena que não são os que me roubaram.
Os policias retiram eles do carro, da maneira de sempre.
À base de socos, pontapés e tapas...Tapa na cara. Tapa na orelha. Chute e empurrões.
Eles entram algemados e cabisbaixos na delegacia, com aparência de estaraem dopados.
Acho q era as porradas que levaram que os deixaram fora de órbita.
Em seu espetáculo de autoridade, a porradaria continua, a cada passo que eles dão.
O fortão resolve participar também, afinal o espetáculo era dele desde o início, e ele deixou claro pelo tom e volume de voz com que já chegou falando. Socos na cara de um dos bandidos, que caiu e ainda levou chutes.

Nesse show não teve palmas.

Decidi então voltar depois. De que adianta ficar aqui vendo isso...

Vou pra casa, cansada, machucada e ainda sim aliviada.
Porque eu pensei em dado momento que em vez de estar na delegacia, poderia estar a caminho de um hospital público, tendo sido baleada, esfaqueada sei lá mais o que, sem minha mãe saber sequer onde eu tava. Podia estar estirada até aquele momento no asfalto, no cruzamento onde aconteceu tudo.
Alívio porque estou inteira, estou indo pra casa.

Tudo que quero é desabar na minha cama, e em silêncio no escuro agradecer por estar viva.

(amanhã vai ser outro dia...)


(teste?)

"A idéia de um transbordamento ou ultrapasse da consciência pelo destino ou por qualquer outra força maior faz-se presente na concepção de alegria, um dos movimentos mais vivos da sensibilidade, para o qual existem em latim termos diferenciados: gaudium, laetitia , alacer. O gáudio refere-se a uma extravasão imediata, mais profana, atinente a um gozo ou um regozijo incitado por um móvel prontamente discernível. Já laetitia (do latim castrense, termo preferido por Espinosa) implica “graça”, isto é, o investimento da consciência pelo dom divino.
Graça, que significa saudação, traduzia na Antiguidade o espanto e a celebração da vida, razão pela qual estavam colocadas as três Graças na entrada da acrópole de Atenas. Alacer, alacris (no latim vulgar, alicer, alecris) são adjetivos semanticamente referidos à liberdade da asa (ala) no céu e à permanência da terra (acer deriva de ager, campo). Alegria é o regime afetivo que propicia ao indivíduo, ainda que preso à gravidade ou à constância da terra (ou seja, as convenções e suas exigências), a experiência do movimento no céu, que é na prática um “desligamento” ou um “desapego”. "

trecho de
ALEGRIA E CORPORALIDADE AFRO-BRASILEIRA, Muniz Sodré.